sábado, 21 de julho de 2012

'Na Estrada', de Walter Salles


Ando ocupado com algumas coisas. Nem tive tempo de colocar no Tributo ao Rádio do Rio de Janeiro as fotos que estou tirando da exposição Maldita 3.0. De modo que só agora arrumei um tempo para escrever esta resenha aqui.

Vi Na Estrada no domingo passado. O filme é muito bom. Tem o mesmo impacto que teve o próprio livro que lhe deu origem: o clássico On The Road de Jack Kerouac. De cara, vemos que a fotografia do filme é de excelente bom gosto. Retrata bem o que eram os Estados Unidos naquele período pós-guerra. A história do filme começa em 1947 e vai até 1951. Ao contrário do que Jack Kerouac recomendou em uma carta escrita para Francis Ford Coppola (reduzir todas as viagens do livro em apenas uma), Walter Salles reproduziu no filme todas as viagens feitas pelo protagonista Sal Paradise (o alter-ego de Kerouac) e seus amigos Dean Moriarty (alter-ego de Neal Cassady) e Marylou pelas estradas americanas. E retrata também a viagem de Sal e Dean rumo ao México, última viagem retratada no filme e no livro.

O filme faz jus ao que se esperava dele. Retrata os anseios daqueles vários alter-egos da Geração Beat em largarem o que estavam fazendo, sair por aí e encontrarem a si mesmos. Os personagens são apaixonados por livros e por bebop (uma variante acelerada do jazz, em voga nas décadas de 1940, 1950 e 1960). Aliás, as cenas em que os personagens estão cantando e dançando em shows ou festas de bebop são das cenas mais bacanas da história do cinema. Desde já. Há também uns toques de folhetim, com a trama de Dean e de suas duas ex-mulheres Marylou e Camille.

Claro que há todos os excessos dos personagens, excessos tornados mais patentes desde a versão manuscrita do On The Road só publicada em 2007. Muito sexo a rodo de várias maneiras e consumo de maconha e chás alucinógenos. Os personagens utilizavam esses excessos para se "soltarem" e para rejeitarem todas as regras. É o retrato de uma época. Dificilmente esses personagens conseguiriam alguma "expansão de consciência" se cometessem os mesmos excessos décadas depois, com o advento da AIDS e de drogas mais destrutivas. Uma amiga minha arrisca dizer que esse filme é inadequado para quem esteja em tratamento de abstinência de drogas. Até o crítico Marcos Petrucelli afirmou serem esses excessos a única coisa negativa do filme. Mas não poderia ser diferente. Está tudo no livro do Kerouac.

Na Estrada acaba sendo, no final de tudo e apesar de tudo, uma excelente obra de Walter Salles (há quem diga ser o melhor filme dele) e uma homenagem à Geração Beat. Talvez o filme não vire nenhum estouro de bilheteria. Em seu primeiro fim de semana em cartaz no Brasil (o fim de semana passado), o filme arrecadou R$ 911.761,00, mesmo sendo lançado em cento e tantas salas pelo país afora. O filme é para ser apreciado como é: um filme de cinema de gente grande, não um filme-pipoca. Acabará virando um autêntico filme "cult", ao contrário de algumas bobajadas oitentistas exibidas por alguns canais de TV paga.

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