sexta-feira, 3 de maio de 2013

Uma explicação parcial sobre a decadência cultural do Brasil

      Este texto endossa o que os irmãos Alexandre e Marcelo há muito denunciam. Neste texto do blog Rock Brasilia Desde 64, eles tratam da decadência do Rock. Mais não foi só o Rock que decaiu, mas TODO TIPO DE MÚSICA NACIONAL. Não é só o metal-farofa que recebe apoio, mas também o Favela Bass (fanqui carioca), o Breganejo, o Caribrega (chamado erroenamente de forro), o Sambrega (pagode) e toda sorte de música de alienação em geral, em detrimento da verdadeira cultura nacional. Este brilhante texto dá uma amostra de como está a cultura de nosso país. Leiam.

A década que matou o rock brasileiro

Os últimos grandes hits do rock brasileiro foram Mulher de Fases e Ana Júlia. Músicas que ultrapassaram e muito a barreira das AM, FM e dos elevadores, no Brasil inteiro. Isso foi em 1999, no século passado.

Vários fatores contribuíram para isso. As novidades digitais, ou seja, as inúmeras plataformas e formatos que subverteram de forma inédita o nosso acesso à música e quebraram a perna das gravadoras. Empresas cujos executivos, acomodados em suas fórmulas viciadas, somente se deram conta de sua incompetência quando o novo mundo já havia chegado, metendo o pé na porta.

Banda de rock, que sempre foi um investimento de risco, se tornou inviável. Mas, o que muita gente se esquece é de que eram essas mesmas corporações que faziam o trabalho sujo, de enfiar a mão e os ouvidos na lama, o da triagem.

Paralelamente a isso, começava a tomar forma a rede de festivais independentes, a finada Abrafin. Ora, que maravilha! As malditas gravadoras capitalistas imundas foram finalmente derrotadas. Prenunciava-se, inclusive, o fim do inescrupuloso jabá nas rádios. Um marco na história da música brasileira. Só que não.

Estes festivais, custeados com dinheiro público, tomaram o lugar das gravadoras, que investiam seu próprio dinheiro. A triagem, que antes tinha que buscar algo com potencial para gerar retorno financeiro e compensar o investimento, passou para a mão das curadorias dos festivais. Função remunerada que era rateada entre os próprios produtores da patota, um dava a curadoria pro outro. O público passou a ser mero detalhe dentro de uma alardeada Cadeia Produtiva. Surgia o indie estatal.

O jabá? Sumiu nada. Tomou uma nova forma, ainda mais mesquinha, mais amadora. Era o jabá da conveniência. Os festivais viraram as vitrines para as bandas dos produtores associados da entidade, de amigos de produtores, de irmão de produtor, do amigo do estagiário que vai cobrir o festival pelo jornal X. Tudo isso com muita empada, kibe, cerveja liberada pra todo mundo nos backstages. A festa era mais animada nos bastidores que na frente do palco. Pura alegria, todo mundo bêbado e feliz. O Atacadão das Gravadoras fora substituído pelo Feirão Indie e nós levamos as tomatadas na cabeça. Festivais que deveriam ser meio, passam a ser fim.

E esse pessoal recebia antecipadamente os cachês de produtor ou de curador, não precisavam nem encher seus festivais. Um empreendedorismo risco zero. Pegavam o dinheiro público e garantiam sua parte antes mesmo de vender ingresso. Sem compromisso com nada além de si mesmos, uma infinidade de bandas e artistas ruins, arrogantes, presunçosos, foram repetidamente superestimados pela rede de comunicação cooptada, espécie de puxadinho das editorias de cultura de alguns jornais.

Nessa vala comum, da qualidade duvidosa e da completa falta de critérios, bandas realmente diferenciadas como Charme Chulo ou Superguidis acabaram não recebendo o devido reconhecimento. Outras, como Los Porongas, Móveis Coloniais de Acaju e Lucy and the Popsonics conseguiram pavimentar um caminho próprio, paralelo ao da estrutura indie oficial. E a principal banda do período foi o Autoramas, self-made e independente até os ossos.

Mas, foi pouco. O prejuízo causado pela confraria da boca-livre, ou seja, os produtores e jornalistas agregados da finada Abrafin (e, posteriormente, do Fora do Eixo), foi enorme, irremediável.
Esse bando conseguiu quebrar o vínculo afetivo de toda uma geração com um gênero musical. Aqueles últimos hits nacionais, do Raimundos e Los Hermanos, tem quase 15 anos de idade. Se hoje, esse tal de sertanejo universitário está na boca da garotada, 95% da culpa foi dessa estrutura viciada, incompetente e cega pela própria arrogância. Que conseguiu reunir em si, o que existe de pior no sindicalismo e o que há de mais podre na política. E mais, estão aí até hoje. Mais fracos, irrelevantes, mas ainda estão comendo quietos, farejando oportunidades.

Apesar disso ou até por isso, não deixa de ser interessante observar que a banda que vem lotando seus shows Brasil afora, com público formado em esmagadora maioria pela molecada, seja o Raimundos. Shows cheios, musicas cantadas em coro pela plateia, do começo ao fim. Provavelmente, será a última a consegui-lo. O rock nacional está clinicamente morto.
 
 
 

2 comentários:

PAULO TAMBURRO. disse...

OLÁ LEONARDO,

sou seu seguidor há algum tempo e andei meio sumido, mas agora volto para ficar.

Realmente o Rock e todo o resto da finada música brasileira está intragável!

É uma pena, afinal quem não se lembra e se emociona quando lembra.

Agora...um lixo!

Bem,vida que segue.

Finalmente,gostaria que (se pudesse) , visitasse meus novos blogs o que muito me honraria.

Temos algumas boas novidades , segundo o pessoal, tem comentado.

Posso esperar por você?

Um abração carioca.

Marcelo Delfino disse...

Quando até a Plebe Rude grava CDs com patrocínio da Petrobrás, do Governo Federal e do GDF (Governo do Distrito Federal, já na Era Agnelo Queiroz), é porque a coisa está feia, mesmo! Enquanto isso, atitudes de protesto vem do público mais conservador entre os fãs de bandas de rock: o público majoritariamente evangélico do rock gospel, cujas bandas quase sempre tem uma panela eclesiástica favorável. Os fãs do Oficina G3 vaiaram impiedosamente o deputado estadual Marcos Soares, filho do missionário RR Soares, durante uma apresentação da banda em 18 de fevereiro de 2011 no Rio de Janeiro.