sábado, 16 de março de 2013

A ligação dos donos da UOL 89 FM com a ditadura militar

Acima, da esq., os empresários José Camargo, José Camargo Jr. e Neneto Camargo, da 89, e Otávio Frias Filho, da Folha de São Paulo, donos da atual UOL 89 FM. Abaixo, Paulo Maluf, uma viatura da Folha incendiada por manifestantes e o general Mário Andreazza.

Um fato sombrio está nos registros da imprensa e da História e que colocam em xeque o caráter supostamente "vanguardista" da suposta "rádio rock" UOL 89 FM, no ar desde dezembro passado, como continuidade da famigerada 89 FM.

Sabe-se que, como rádio de rock, a conduta da 89 FM sempre foi bastante duvidosa para o segmento. Apesar do logotipo impactuante, a rádio nunca teve o estado de espírito necessário nem adotava uma linguagem apropriada que a colocasse como rádio de rock de verdade, sendo mais bem-sucedida pelo poderio político de seus donos e pelo marketing em torno da rádio.

Evidentemente, quando a 89 FM voltou ao ar, muita gente falou besteira. Diziam que ela era "rádio rock de verdade", que São Paulo estava órfã de uma grande rádio de rock - e continua estando, apesar dos esforços da Kiss FM (mas ela ainda está longe de ser uma 97 Rock dos tempos áureos) - , que a 89 era "a única e verdadeira rádio rock", "a melhor rádio rock do mundo", entre outros adjetivos delirantes.

Ouvindo a emissora, vi que nada disso valiam os adjetivos exagerados. A programação é meramente hit-parade. A rádio adota um estilo de locução de rádio pop das mais imbecis. As músicas se repetem constantemente e não há criatividade na escolha de músicas a serem tocadas, e a grade de programação inclui programas de besteirol, game shows inócuos e até programas de piadas e futebol (?!).

Pior é aguentar o fanatismo de internautas adeptos da 89 FM, conhecidos pelo seu temperamentalismo e reacionarismo altos. É como se o jornalista de Veja, Reinaldo Azevedo, fosse um punk adolescente. Eles pensam a cultura rock com o umbigo e desprezam completamente a realidade da cultura rock em volta. "Que o mundo se dane!! Só vale o que a gente pensa!!",  esta é sua "filosofia".

Se compararmos o oba-oba da volta da 89 FM e todos os eventos de recordação da antiga Fluminense FM - cuja exposição eu pude conferir com meus amigos Leonardo Ivo, Marcelo Delfino e meu irmão Marcelo Pereira, no ano passado - , dá para ver uma grande diferença.

A celebração da Fluminense FM e seus trinta anos de aparecimento era um evento humano, onde se recordava não apenas uma rádio que tocava rock, mas uma trajetória de vida, um trabalho profissional que não foi muito fácil, que gerou uma grande credibilidade mas não permitiu que o formato da antiga Maldita fosse ampliado para o resto do país.

A festa de relançamento da 89 FM era apenas uma festinha de convidados vip associados à rádio. Uma badalação digna de aparecer na revista Caras, que por sinal já publicou várias notas em favor dos acionistas majoritários da rádio, José Camargo, José Camargo Jr. e Neneto Camargo, do Grupo Camargo de Comunicação, dono não só da 89 mas também da rádio brega-popularesca Nativa FM.

Numa pesquisa cuidadosa, vi que José Camargo já era conhecido como deputado federal pelo PDS e PFL, mas com carreira política surgida na ARENA. Ele tinha fortes ligações com Paulo Maluf e havia apoiado também Mário Andreazza, um dos generais da ditadura militar.

Vendo que os donos da 89 FM cederam uma parte das ações para o Universo On Line, isso significa que o empresário Otávio Frias Filho também se tornou dono da 89 FM, já que o UOL é ligado ao jornal Folha de São Paulo, conhecido por suas posturas reacionárias em favor do PSDB.

Só que a Folha, tal qual o Grupo Camargo de Comunicação, também tem como pano de fundo o apoio à ditadura militar, tendo oferecido suas viaturas para o transporte de presos políticos para as prisões do DOI-CODI, na capital paulista.

Conhecendo esse ponto sombrio, dá para perceber o quanto a cultura rock, associada a um processo social de rebelião cultural e política, entra em sério conflito com a 89 FM, com seus donos ligados a um pano de fundo político ideológico nada agradável aos verdadeiros apreciadores do rock.

Chega a ser estranho que músicos de Rock Brasil, inclusive punks, de relevância como Clemente e Philippe Seabra aprovem a volta da 89 FM, quando os músicos e os donos da rádio andavam em caminhos ideológicos diferentes. Mas, infelizmente, em nome da visibilidade e outras vantagens, joga-se os princípios na lata de lixo. Vide o PT...

Espera-se que as pessoas se atentem por esse aspecto sombrio que explica o quanto a 89 FM nunca esteve comprometida com um perfil de rádio de rock autêntico, como eram as antigas Fluminense e 97 FM. Seus interesses não eram apenas comerciais, mas politiqueiros, e o temor é que o Grupo Folha utilize a UOL 89 FM para reciclar seu poderio sobre a sociedade paulista.

Esse é o perigo que poucos percebem. O de que os grandes senhores do poder midiático, indiferentes ao interesse público, usem uma "rádio rock" para criar uma base de apoio juvenil, o que poderá gerar, no futuro, adultos bastante reacionários e autoritários.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vamos ouvir música boa, Rock and Roll!!! Larga mão de ser chato!!! Se não quer ouvir a 89 ouça a Kiss!!! As duas são ótimas!!! Viva o Rock!!!!!!! Ouça Rock!!!!!

Mala sem alça... do caralho!!!

Pedro Pedruzzi disse...

Olá. Interessante a analise. Eu particularmente fiquei contente com a "volta" da 89. Não me importo muito com a posição política dos proprietários. Penso q os veículos de comunicação acabam tomando um direcionamento político e cabe as pessoas refletirem ou não. No caso da 89 penso ser sutil esse reacionismo a q vc se refere. Acredito q o saldo é positivo para muitas pessoas, principalmente dos 20 aos 40 anos. A programação hits parade (atuais e históricos) já é um ótimo começo. Falta se posicionar e começar a apoiar as novas bandas nacionais!
Abraço