terça-feira, 23 de julho de 2013
General Enxaqueca ignorava dilemas éticos
A Warner continua sua sanha de fazer filmes-pipoca parecerem filmes sérios. Conseguiram um resultado satisfatório em Batman Begins, um resultado pleno em The Dark Knight e fracassaram em The Dark Knight Rises. Depois dessa trilogia, o famoso estúdio americano lançou há mais de um mês o filme O Homem de Aço, que recomeça a história do Superman nos cinemas. Aliás, esse foi o primeiro filme que vi no cinema literalmente com um pacote de pipoca depois de dez anos. Porque o filme anterior que vi da mesma maneira foi Matrix Reloaded, coincidentemente outro filme da Warner.
Não pretendo me estender muito nos mesmos comentários que os críticos de cinema já fizeram a respeito desse O Homem de Aço. Apenas deixo algumas anotações. O filme é absurdamente barulhento (os efeitos sonoros são altos demais e o antagonista General Zod parece o Garoto Enxaqueca: passa o filme todo berrando ou falando de maneira ríspida), as cenas de destruição em Metrópolis são descaradamente um plágio da destruição dos filmes dos Transformers e o roteiro tem uma grande quantidade de furos. A explicação "científica" para os superpoderes do Superman continua tão esdrúxula quanto nas versões anteriores do personagem.
Em relação ao que já foi escrito pelos críticos, compartinho de apenas um ponto positivo: Krypton (planeta natal do Superman) ficou com a cara do Universo Star Wars. Eu sou fã declarado de Star Wars. Mais uma semelhança: O Homem de Aço também apresenta intrigas políticas em um planeta de outra galáxia.
Aqui neste texto, meu objetivo final é deixar algumas impressões de um personagem que os críticos de cinema pouco estão comentando. Exatamente o antagonista do filme: o General Zod, outro kryptoniano. Ele era o general responsável pela segurança de Krypton. Neste filme, ele descobre que os governantes do planeta (que, ao que tudo indica, tem um regime parlamentarista) autorizaram irresponsavelmente a exploração da energia do núcleo do planeta. A operação se tornou um desastre fatal. O núcleo se tornou instável, e a explosão do núcleo e de todo o resto do planeta se tornou uma questão de horas. Tal como vários generais da história aqui da Terra, Zod decidiu usar os erros dos governantes como pretexto para dar um golpe de Estado. Neste filme, o objetivo de Zod é depor o conselho que governa Krypton antes da explosão do planeta. Mas como o mundo deles se autodestruiria, Zod pretendia pegar a matriz genética de todos os habitantes kryptonianos e usar a engenharia genética para criar uma nova civilização da mesma raça, em outro planeta a ser ocupado por Zod e seus asseclas. Vale lembrar que, neste filme, os kryptonianos não se reproduziam naturalmente, pelo método sexuado. Os kryptonianos eram gerados pela engenharia genética e depois eram literalmente cultivados em úteros artificiais fora de qualquer corpo feminino. Kal-El (o futuro Superman) foi o primeiro kryptoniano concebido e gerado por seus pais pelos métodos naturais depois de centenas de anos. Zod e seus asseclas acabaram presos, depois que Zod mata Jor-El (cientista e pai de Kal), mas sem impedir que Kal fosse enviado ainda recém-nascido para a Terra, com a matriz genética dos habitantes de Krypton em suas células. Zod e seus asseclas são aprisionados na Zona Fantasma, e acabam escapando quando a onda da explosão de Krypton os alcança.
O general Zod tinha um sentido de absoluta falta de emoção (a não ser, no caso dele, o mau humor permanente) e raciocínio extremamente lógico e frio (já que os kryptonianos procuravam eliminar as emoções e exaltar a razão). Tudo isso aliado a uma total ausência de ética ou moral, inspirado na sua natureza militar de salvar seu povo passando por cima do que julgasse ser um inimigo ou obstáculo. O resultado é o protótipo perfeito de um político militarista: um antagonista que não enxerga nada além de seu objetivo idealista de salvar sua raça, mas sem se importar com mais nada, nem mesmo com outras vidas. Daí a decisão dele de utilizar as máquinas criogênicas das naves em que os prisioneiros estavam na Zona Fantasma para aproveitar a matriz genética dos kryptonianos do corpo de Kal-El (já que Zod pretendia mata-lo) pra gerar outra civilização kryptoniana no planeta Terra, mas antes tendo que usar as naves para terraformar o planeta, o que acabaria matando todos os terráqueos (provavelmente por hemorragia ou esmagamento, dada à nova biosfera e à força gravitacional diferente) e tornando o planeta habitável para kryptonianos geneticamente modificados. O holograma consciente de Jor-El chega a dizer a Zod que essa operação seria genocídio, mas Zod responde ironicamente, dizendo que estava tomando lições de moral com um fantasma.
Não pretendo contar aqui até que ponto Zod levou adiante seus planos de terraformação e de criação de uma nova civilização kryptiniana. Prefiro deixar para os leitores conferirem por si mesmos. Mas não deixem de prestar atenção nesse personagem, cujos dilemas foram baseados em dilemas que a humanidade terráquea deverá ter. O planeta Terra será inabitável daqui a milhares ou milhões de anos. Até lá, a humanidade terá que decidir como se transferir para outros planetas. A questão da terraformação (se é que isso será viável) se tornará um dilema ético se a ideia for praticada num planeta que já tiver vida orgânica, e mais ainda se tiver vida inteligente.
Postado por
Marcelo Delfino
às
terça-feira, julho 23, 2013
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