sábado, 20 de abril de 2013

Lambanças do governo americano fazem Marvel mudar perfil de itens da franquia Vingadores

Hoje às 22h o canal Telecine Premium lançará na programação da TV paga (sem ser nos sistemas sob demanda ou PPV) o filme The Avengers - Os Vingadores, praticamente um ano depois do lançamento do filme nos cinemas. Há de se anotar que o filme Homem de Ferro 3 (cronologicamente uma continuação de The Avengers - Os Vingadores) estreará nos cinemas na próxima sexta-feira. Analisando a história dessa franquia desde as revistas em quadrinhos (sua mídia original), fica flagrante a mudança que os personagens sofreram ao longo do tempo, mudanças que ficaram maiores nas últimas décadas. Quase todas destinadas a retirar de alguns desses itens seu caráter evidentemente americanista, explorado à exaustão desde a Segunda Guerra Mundial até o fim da Guerra Fria, e para tornar os personagens palatáveis a um mundo cansado das lambanças do governo americano ao longo das décadas.

O personagem mais antigo de todos os Vingadores é o Capitão América, que integrou, segundo a Wikipedia, "uma onda de super-heróis que surgiram sob a bandeira do patriotismo norte-americano e que foram apresentados ao mundo pelas companhias de Histórias em Quadrinhos, durante os anos da Segunda Guerra Mundial. Ao lado de seu parceiro Bucky, o Capitão América enfrentou as hordas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, mas caiu na obscuridade após o fim do conflito". O personagem (cujo nome de batismo é Steve Rogers) é o típico soldado americano padrão, excelentemente treinado e disciplinado. Como na maior parte da existência nos quadrinhos o personagem estava submetido às ordens de autoridades nomeadas pelo governo americano e na maior parte do tempo ele aparece com um traje e um escudo estilizados que imitam a bandeira americana, o personagem acabou virando um ícone ufanista para os americanos e um ícone do imperialismo americano para qualquer estrangeiro que se sinta minimamente prejudicado pelos interesses e ações dos governos americanos. Só que nem sempre a obediência do capitão Rogers ao governo americano foi incondicional ou correspondida pelo governo. Alguns anos depois da Segunda Guerra, as histórias em quadrinhos mostraram as primeiras divergências do capitão com as autoridades. Rogers chegou a ser proibido de usar o uniforme e o escudo típicos de Capitão América, entregues a outros personagens, fazendo com que Rogers passasse a usar outro uniforme, predominante preto, e passasse a usar a simples alcunha de "O Capitão". Na década de 1970, Steve Rogers se desilude tanto com o governo que abandona o trabalho de capitão e torna-se um nômade. No filme de 2011, a origem do personagem foi recontada. Ele chegou a afirmar ainda no recrutamento em Nova York que não gostava de valentões, sejam de onde forem, e ao longo do filme demonstrou não temer a morte para salvar a vida de outros. Pelo que tenho visto, os fãs mais ferrenhos do personagem reclamam que o uniforme dele para o filme Captain America: The Winter Soldier lembra cada vez menos o uniforme original dos quadrinhos. Menos ainda que o uniforme usado em The Avengers - Os Vingadores.

Outro vingador que passou por mudanças para torna-lo palatável fora do mercado americano é o Homem de Ferro. Devido à longevidade do personagem, sua origem foi contada e recontada várias vezes. Em todas essas versões, Tony Stark é um bilionário da indústria armamentista e maior fornecedor das forças armadas americanas. Só que na atual versão cinematográfica, o personagem viu que as armas criadas por sua indústria estavam sendo desviadas para guerras civis no exterior, o que o convenceu a fechar a divisão de armas de suas indústrias e o fez mudar para o ramo da energia sustentável, em voga na atualidade. O que acaba atraindo a definição irônica do vilão Ivan Vanko de Homem de Ferro 2: "Vem de uma família de ladrões e carniceiros. E agora, como todo culpado, tenta reescrever sua própria história. E esquece todas as vidas que a família Stark destruiu".

Há ainda uma pequena mudança cosmética na estética da organização fictícia S.H.I.E.L.D, que desde as origens nos quadrinhos em 1966 é um organismo fundado pela ONU e bancado pela OTAN. Obviamente os interesses do governo americano jamais são contrariados pela S.H.I.E.L.D, mas na atual versão cinematográfica a Marvel resolveu tirar um vestígio de americanismo da logomarca da organização: um miniescudo que lembrava a bandeira americana, com suas cores, listras e bandeiras. Restou apenas uma ave estilizada (aves integram e integraram brasões de diversos países, até mesmo da Alemanha) e as letras, tudo em cor preta.

Junte-se a tudo isso um último item de internacionalização da franquia Vingadores: a Viúva Negra, que nas origens quadrinescas era uma super-espiã soviética inimiga do Homem de Ferro e que teve um romance com o Gavião Arqueiro e aceitou ingressar na S.H.I.E.L.D.

Parece que essa sanha da Marvel em desamericanizar a franquia dos Vingadores repercutiu nas bilheterias pelo mundo afora. The Avengers - Os Vingadores teve uma receita mundial de US$ 1.511.757.910. O resultado cinematográfico dessa sanha pode ser conferido daqui a pouco no Telecine. Só que não tem bilheteria ou diplomacia que nos faça esquecer que esse filme é um típico arrasa-quarteirão americano, com todos os pontos positivos e negativos possíveis. Mas vale como entretenimento.

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