terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre as enchentes que assolam o Rio

      Desde ontem, dia 5 de abril de 2010, venho acompanhando os acontecimentos desta enchente que assola o Rio desde as 16:00 deste dia. Quando começou a chover, eu estava na faculdade em Campo Grande. Fui andando para o centro de Campo Grande como sempre faço, e fui comprar peças para minha bicicleta. Nesta hora, decidi pegar o 1134 ao invés do S14 que sempre pego para ir para o Centro e de lá, pegar outra condução para Copacabana. Foi a decisão mais acertada que tive, pois a Avenida Brasil ja hávia alagado em diversos pontos e quando saí de Campo Grande ja estava chovendo bastante.
     Durante a viagém num ônibus urbano com ar condicionado muito forte, a chuva só aumentou e passei por estradas perigosas como a Estrada da Grota Funda, mas felizmente tudo correu bem apesar da forte chuva. Não cheguei a enfrentar qualquer engarrafamento na Barra como acontece de costume, milagrosamente! Ao descer em Copacabana na Avenida Atlantica, na altura da Rua Santa Clara, enfrentei uma forte chuva com ventos muito fortes. E apesar de tudo cheguei em casa são e salvo, mas sem imaginar a extensão da tragédia que esta chuva causou. Quando acordei pela manhã de hoje, assisti e ouvi pelos noticiários televisivos e radiofônicos a tragédia que aquela chuva havia causado. Foi coisa de louco! Ainda sai de manhã para resolver problemas pessoais inadiáveis e passei pelas ruas como Figueiredo de Magalhães e pelo Tunel Rebolsas. Tudo deserto, sendo que no Humaitá estava uma lama tão forte que parecia que aquelas ruas daquela região eram de terra. Ninguém se arriscava sair nas ruas. O comércio praticamante não funcionou. Lojas que funcionam até meia noite ou até as 22:00 estavam fechadas as 20:00. Escolas e repatições publicas não funcionaram hoje e não funcionarão amanhã. Foi um feriado forçado.
     Diante disso tudo, como o Rio quer sediar Olimpíadas e final de Copa do Mundo? Isso é cinco vezes pior do que violência urbana que tanto nos fez ser derrotado nas várias vezes em que competimos para trazer estes eventos para cá. Violência urbana é um mal menor diante desta catastrofe que ocorreu entre ontem e hoje. O que aconteceu hoje mostrou que o Rio não terá condições de realizar tais eventos se não fazer uma tremenda obra de saneamento urbano, remoção da maior parte das favelas, se não investir em habitação e transportes de massa como trens e metrô. Violência urbana é muito facil de ser controlada e até combatida, vide as UPPs, e os eventos como o Pan e a Eco 92, onde eles conseguem controlar de forma eficiente a violência urbana. Só que no caso de tragédias como essa o buraco é muito mais embaixo, pois mostra a fragilidade que a cidade se encontra, onde ela não se prepara para situações como essa e o custo de recuperação é muito mais alto. São vidas que se perdem, pessoas que perdem suas casas e familias, serviços publicos e privados que param, ou seja, o prejuíso é muito maior.
     Em relação a tudo isso, como eu disse anteriomente que é preciso  investir em saneamento básico, pois na maioria das favelas e mesmo no asfalto, o esgoto além de está a ceu aberto, ele está ligado a redes pluviais que não foram feitas para isso. Saneamento básico não dá voto porque não aparece diante dos olhos das pessoas, mas previne tragédias como essa assim como previne as pessoas de doenças  esvaziando os hospitais e postos de saúde. A outra coisa a ser feita é a remoção de favelas. Favela não é e nunca foi moradia ja que são um amontoado de casas, mesmo de alvenaria, uma sobre as outras, sem planejamento algum. Tem que se investir em moradia com agua e esgoto em locais apropriados e com uma excelente rede de transporte, pois se houvesse transporte de massa decente nada disso aconteceria, ja ninguém teria de morar em favelas para ficar próximo aos locais de trabalho e lazer. A outra coisa a ser comentada é sobre a falta de educação do povo que joga lixo, no chão e nos rios jogam sofá, carros e até cadáveres humanos.  Também tem que se investir em lazer ja que um dos motivos que fazem moradores de favelas resistirem a sair delas é o fato de que para onde vão não há opções de lazer. Um exemplo disso é a  Zona Oeste que quase não tem teatros, biblotécas, cinemas e eventos de qualidade. Ja relatei esta situação aqui neste blog ha um ano atrás.
    E terminando este assunto, vou fazer coro com o Alexandre Figueiredo do blog O Kylocyclo no que se refere ao Favela ou Carioca Bass. Como ele havia dito em seu blog, este ritmo musica só fala em desgraça quando a policia promove desgraça nas favelas. Quando catátrofes como esta acontecem, elas não viram letras em musicas de favela bass. Simplesmente silenciam-se e lamentam o ocorrido, o que dá uma impressão ainda que falsa,de que são a favor dos criminosos que lá vivem e são formados pelo mundo do crime nestes locais. Quando ha tragédias como essa, não viram música só lamentam e choram as perdas. Com o samba é diferente, tragédias como essa viram músicas e bandidagem e crimes passam longe das letras de samba. Em exemplo disso é a letra de um ilustre morador do Vidigal de nome Sergio Ricardo que se aplica muito bem aos dias de hoje. Leiam:
      
"Todo morro entendeu quando o Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo o Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar

Choveu, choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração."

 


      A primeira vez que tive contato com esta letra foi no primário em 1992, quando cursava a segunda série. Ele fazia parte divisão de português do livro "Integrando o Aprender", da Editora Scipione, hoje  pertencente a Editora Abril. Era um dos textos do livro feitos para ser respondidos naquelas perguntas de interpretação de textos. Nele, havia junto ao texto uma ilustração em forma de caricatura do Zelão ao pé do morro chorando sua tragédia com o seu violão quebrado nas mãos. Este livro vinha com português, matemática, estudos sociaís e ciências juntos, economizando a compra de livros independentes por parte do governo e dos pais de alunos.  Diante disso, posso dizer o quanto o samba representa o povo favelado em detrimento do favela bass que só idiotiza, estigmatiza e aliena estes povos como o Alexandre Figueiredo tanto enfatiza em seu blog. Esta música mostra muito bem isso. E só!

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